terça-feira, 24 de abril de 2007

Observatório da imprensa - O efeito dominó das imagens


A imprensa noticiou – sem muita ênfase, é verdade – que professores norte-americanos vêm fazendo sérias ressalvas à cobertura televisiva do massacre na universidade da Vírgínia. Consideram que a disseminação livre ou "descontrolada" das imagens do acontecimento poderia suscitar novos comportamentos anômicos dessa mesma natureza, uma espécie de efeito-dominó da catástrofe.
É difícil estabelecer relações de causa e efeito quando se trata da coexistência do mundo virtual com a realidade sócio-histórica, mas o fato é que a nação norte-americana, ainda traumatizada pelo massacre na Virgínia, assistiu quatro dias depois ao episódio do engenheiro espacial da Nasa que se entrincheirou num prédio, em Houston, para fazer dois reféns, matar um deles e se suicidar. Na verdade, segundo os jornais, este foi apenas o caso mais grave de um dia marcado por ameaças de bombas e de ataques a tiros contra escolas em Nova York, Nova Jersey, Minnesota, Califórnia, Washington, Arizona e Texas.
O temor quanto ao efeito-dominó parece, assim, ter alguma razão de ser. Há algum tempo, a pesquisadora francesa Marie-José Mondzain, indagando-se sobre a possibilidade de que um crime tenha encontrado o seu modelo nas ficções audiovisuais, dizia que, em sua realidade sensível e suas operações ficcionais, as imagens "se colocam a meio-caminho das coisas e dos sonhos, num entre-mundo, um quase-mundo, onde se dispõem talvez as nossas servidões e as nossas liberdades".

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